Emoções

 As emoções

  O tema das emoções destaca-se pelo papel que estas  desempenham no dia a dia do ser humano. Evidentemente, as emoções invariavelmente influenciam diversos aspetos da nossa vida, sendo de extrema relevância para (por exemplo) a tomada de decisões. Consequentemente , contribuem para a determinação do nosso futuro.



O que são as emoções?


 Por vezes, pode haver alguma dificuldade em distinguir os conceitos "emoção" e "sentimento". Então, o que são as emoções afinal?


Emoções:

  • São um processo neurofisiológico, um padrão de reação complexo formado por um conjunto de respostas químicas e neurais;
  • Um estado mental e fisiológico de um organismo decorrente de uma situação, provocando uma experiência subjetiva e manifestações somáticas e viscerais;
  • Envolvem elementos experimentais e comportamentais pelos quais um indivíduo tenta lidar com um assunto ou evento pessoalmente significativo;
  • As emoções têm um papel fundamental nos processo de adaptação e comunicação dos seres humanos. 

Os vários “tipos” de emoções  

  A qualidade específica da emoção (por exemplo, medo, vergonha, etc.) é determinada pelo significado específico do evento. 

  Por exemplo, se o significado envolver ameaça, é provável que no indivíduo se gere medo; se envolver a desaprovação de outra pessoa, é provável que se gere vergonha no mesmo. 

 A emoção normalmente envolve sentimento, mas difere do sentimento por ter um envolvimento aberto ou implícito com o mundo. A emoção é de curta duração pela sua intensidade e é ela que, juntamente com os afetos, gera o sentimento. 


  Por sua vez, o sentimento pode ter uma duração maior, sendo a elaboração subjetiva de uma experiência emocional. É, assim, o modo como interpretamos as emoções vividas, não estando relacionados a uma causa imediata. 


 Por exemplo, experimento a emoção da tristeza se perder um familiar, mas posso sentir-me triste só uma semana ou, pelo contrário, até ao fim da minha vida. 



    As emoções básicas (primárias) são as seguintes: 

  • alegria;
  • tristeza;
  • medo;
  • nojo;
  • raiva. 

 Estas emoções são representadas no filme “Divertidamente - Inside Out”, que recomendamos a todos por abordar este tema de uma forma divertida e dinâmica. 


 As emoções primárias são emoções evolutivas partilhadas por indivíduos de todas as culturas e ligadas a processos neurológicos e fisiológicos específicos. No entanto existem também as emoções secundários (sociais) que são associadas às relações sociais, são emoções nas quais os aspetos socioculturais aprendidos são muito significativos. 


O papel das emoções na tomada de decisões

 Os processos emocionais (emoções, sentimentos e afetos) desempenham um papel fundamental na nossa tomada de decisões. 

  Inicialmente considerava-se que o ser humano tomava decisões impulsionado pela escolha do que lhe traria o maior benefício. No entanto, ao longo do tempo foi possível perceber que, por vezes, tomamos decisões que não nos trazem a menor vantagem ou até nos prejudicam. Talvez se fôssemos totalmente racionais, não tivéssemos escolhido a mesma coisa. 

  Assim, chegou-se à conclusão de que, muitas vezes, o que nos faz escolher uma determinada opção são as emoções. De facto, estas funcionam como uma espécie de instinto, o qual nos direciona para determinado caminho por sentirmos, naquele momento, que será o mais adequado.

  António Damásio relata casos de pacientes com danos nos lobos frontais, que afetaram as emoções e os afetos. Embora estes indivíduos tenham mantido as suas capacidades cognitivas inatas, perderam a capacidade de tomar decisões. O psicanalista concluiu que os marcadores somáticos influenciam as nossas ações, aumentando assim a eficiência da tomada de decisão. Não podemos deixar de referir que emoções positivas e negativas influenciam-nos de formas bastante diferentes. 

  Analisemos o seguinte exemplo: a minha mãe faz anos e estou a pensar comprar-lhe os seus chocolates preferidos. Há vantagens e desvantagens nesta decisão pois embora eu vá perder dinheiro e não esteja a ajudar a dieta da minha mãe, de certeza que ela vai gostar de receber este presente. No entanto no momento da compra as emoções ganham um papel importantíssimo, eu não estava certa da decisão que estava a tomar e por isso as emoções que sinto podem fazer-me escolher levar ou não os chocolates. Se por um lado o empregado da loja for bem educado simpático e até me der alguns sabores de chocolates para experimentar eu, contagiada pelo seu bom humor, vou ter mais vontade de lhe comprar uma caixa para levar para casa. Por outro lado, se quando chegar à loja estiver uma fila enorme é uma senhora aos berros a refilar com o empregado, vou ser dominada por emoções negativas que provavelmente me vão fazer desistir de comprar qualquer chocolate.

  No nosso dia a dia não temos apenas em conta as emoções que sentimos naquele momento exato mas também as emoções passadas, tomamos decisões na perspetiva de reproduzir as emoções que nos foram mais agradáveis em situações anteriores e evitar as que nos trazem mais desconforto. As emoções garantem a sobrevivência do ser humano. Assim sendo, no nosso dia-a-dia a inteligência emocional atua juntamente com a inteligência cognitiva, sendo ambas imprescindíveis no papel de tomada de decisões.

Documentário “Deus Cérebro” - RTP1


Episódio 1 - Maquinaria das Emoções 

   Não é só a tecnologia do século XXI que é exponencial, também o cérebro humano obedeceu à mesma regra no passado, sendo considerado o mais rápido crescimento de um órgão complexo da história da Humanidade. O que terá estado na origem deste fenómeno? Qual o papel da cooperação e da socialização na edificação da cultura humana? O que distingue o nosso cérebro do cérebro dos animais? Porque é que nos tornámos inteligentes e de que forma a inteligência está ligada às emoções? Ligação entre saúde e vida emocional é cada vez mais clara. Que impacto têm as emoções no cérebro humano? É possível morrer de amor?

  É a estas questões que o primeiro episódio do documentário “Deus Cérebro”, contando com a participação de António Damásio entre outras personalidades do campo da ciência reconhecidas a nível internacional.

  Segundo o neurologista português, diretor do Departamento de Neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade do Iowa, para tomar decisões, avaliamos racionalmente os prós e os contras, mas a emoção e os sentimentos são uma parte integrante do processo, e fundamentais para o seu sucesso. 

  O que António Damásio fez questão de frisar foi que as emoções não são meros reflexos. "As emoções são colecções de respostas químicas e neuronais, que formam determinados padrões. Estão implantadas na nossa biologia. É como ter coração ou fígado, não é algo que se deva ou não ter."

  As emoções também não são exatamente algo que se possa aprender a ter, embora a educação e a cultura as possam modelar. "Nem todos choramos e rimos pelas mesmas coisas, mas todos choramos e rimos da mesma maneira. As emoções são uma espécie de língua franca que atravessam as culturas." Não são um resquício evolutivo: "As emoções não estão aí por graça ou esquecimento da evolução. Desempenham um papel importante na tomada de decisões".

  Em animais com poucas capacidades cognitivas, as emoções são essenciais para que se mantenham vivos - para ter uma reacção de medo e fugir perante um predador, por exemplo. "Se um animal tiver uma doença que não lhe permite ter emoções, rapidamente será morto. E o mesmo acontece com os seres humanos, apesar de terem uma vida cognitiva mais complexa."

  O estudo de casos de pacientes com lesões nos lobos frontais do córtex cerebral mostrou como esta área é importante para o processo de tomada de decisões. Apesar de manterem as capacidades cognitivas - a inteligência permanece inalterada -, acontece algo dramático: estas pessoas tornam-se insensíveis às consequências futuras das suas acções, incluindo punições. Mantêm o conhecimento factual dos padrões sociais e morais da sua comunidade, mas são incapazes de os aplicar na sua própria vida. "A vida destas pessoas torna-se um catálogo de desgraças: não se preocupam com o que possa acontecer consigo ou com os outros". 

  Para explicar o que lhes acontece, Damásio relatou uma experiência realizada no seu laboratório, em que pacientes com este tipo de lesões neurológicas se entregam a um jogo de cartas sem qualquer tipo de medo: preferem sistematicamente os baralhos que, apesar de lhes poderem conferir grandes compensações monetárias imediatas, resultam inevitavelmente na ruína completa. O que acontece é que racionalizam as suas acções até ao absurdo, uma vez que a "maquinaria das emoções", como diz Damásio, desapareceu. 

  "Não há facto algum da vida cognitiva que não esteja ligado a um determinado valor emocional. Sem isso, a mente deixa de ser normal." A razão não é, portanto, uma espécie de supra-sumo da evolução, desligada de tudo o que está para trás. "O conhecimento, a lógica e a razão não são simplesmente camadas novas que foram acrescentadas. Fazem parte de uma estrutura que está também ligada ao sistema das emoções, que desempenha uma função de regulação básica da vida", concluiu António Damásio.


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