Ponto
«Estou aqui, despida de tudo, à espera de nada. Sem expectativas para o que vem e há de vir, nem esperanças sobre o que já fui, o que já fomos. Eu e tu. Eu e tu e o mundo.
Porque nas palavras sinto e digo aquilo que a minha voz não consegue verbalizar. Nunca fui de falar assim tão abertamente, sempre me guiei por sombras e sussurros, vivo no murmúrio dos suspiros; mas pego no lápis e já não sou eu. O papel ganha vida, a grafite solta-se, deslizando por própria vontade, e os pensamentos que ficaram perdidos, à deriva no ar, agora voam na aragem do fim de tarde ou à luz do último luar antes de amanhecer, para quem os quiser apanhar.
Na dor do silêncio espero encontrar paz. Porque amar foi-nos ensinado como sendo poesia, mas estou em constante auto-observação e reflexão por te amar, em constante sofrimento , roída pela insegurança do ser (ou não ser o suficiente, na verdade) por me ter aberto a ti. Por me ter desvendado a ti, a mim e ao mundo.
E nas lágrimas que ainda não verti sinto o toque do alívio de não me deixar tocar mais, de me esquecer daquilo que a vida quer de mim, do que eu quero de mim, do que tu queres de mim.
Que queres tu?
Já soube - ou pensei saber. Entretanto o tempo passou e já não sei. (Finalmente) amar-te deixou-me turva, estonteada, com a vista mais desfocada do que para mim era habitual: agora até com as lentes grossas dos meus óculos desformatados passeio bamboleante no mapa astral.
Existe, então, o antes e o depois das voltas da vida - antes sabia ler-te, depois deixei de o saber. Fui só eu, ou foste tu que mudaste também? E o mundo, terá mudado?
Tenho tanto ainda por dizer, mas tão pouco vocabulário e coragem para o fazer. Quando estarei à altura? Será que, entretanto, te vais aperceber das dúvidas mal apagadas que ficaram nas entrelinhas?
Gostava de ter respostas para as questões que me atormentam o pensamento ao escorrerem na água do chuveiro, ou ao aninharem-se nos lençóis escuros da hora da meia-noite. Porém, não as tenho. Contento-me em ir-me apoiando nos ponteiros do tempo e fico à espera.
Aqui estou, à espera de tudo, despida de (aparentemente) nada. Sem esperanças do futuro, nem expectativas destroçadas do passado. Eu e tu. Tu e eu. Nós e o mundo.
Na tentativa de que voltes a notar em mim.»
Sherlock Blogger
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarGostei muito muito! Parabéns :)
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