Devaneios de um sentimental

 

De Coração Partido


  "Que nome se dá à sensação de que se está à deriva no limbo da vida, no limite da realidade? À sensação de se ter adormecido, de se estar entorpecido, preso num pesadelo infindável e que no inconsciente levanta a pergunta “Não estará na altura de acordar?”?
  É nesse ponto ingrato da vida, que existe sem ter nome, que me encontro, porque te levaram de mim, avô. Tu que me ouvias sem eu falar. Tu que escutavas a filosofia do mundo, saboreavas a música country do vento e tinhas sempre uma migalha de memórias na ponta do cigarro. Tu que arrastavas os pés, andavas de camisa, gostavas de carros e entravas nas divisões com a barriga em primeiro lugar. Tu que, com a tua ida sem volta, me deixaste para trás de mãos tremidas e com uma inclinação vertiginosa para devaneios sentimentais.
  Talvez a incredulidade da situação torne tudo mais dormente, mais irreal até. A atualidade parece-me apenas uma partida cruel do destino, que passará com o tempo.
  Tempo.
  Poupa-mo-lo tanto para quê, se não podemos partilhá-lo? Dava-te do meu para que tivesses tido mais algum."
Sherlock Blogger

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